4 de abr. de 2014

Quem arruma homem é cachorra, princesa é encontrada!


O título desse texto é um dos doze mandamentos de uma princesa. Está 'boiando'? Reproduzido pelas igrejas Brasil afora, a frase faz parte da doutrina criada pela filha de Baby Consuelo, hoje Pra. Sara Sheeva (ex-SNZ). Trata-se de um fenômeno gospel que dita regras de comportamento para moças ‘na idade de casar’, ou seja, entre 16 e 25 anos. A ideia é estimular uma nova cultura comportamental entre jovens fieis no que se refere a namoro, sexo e casamento.

O chamado ‘culto das princesas’ tem suas vertentes em Imperatriz, (Comunidade Schallom e Comunidade Nova Vida). Nas demais igrejas, como a Nova Aliança, os preceitos são reproduzidos de forma mais restrita, nos chamados ‘Encontros’. Estes acontecem mensalmente e são separados por gênero e faixa etária.  Os rapazes também são doutrinados, afinal, as moças estão se preparando para encontrarem príncipes!

"A virgindade não é imposta. Para mim, a castidade não é pesada porque optei por ela. Quero, de fato, me relacionar apenas com aquela que Deus escolheu para mim, e após o casamento – afirmou Júnior Santos (22) . O jovem adventista namora há um ano e afirma ter encontrado sua ‘princesa’. “Quando somos tentados, jejuamos e oramos”, explica.

A opinião é compartilhada por Carina Alves (17), que vai além: “Nem beijo na boca! Aqui, não namoramos, fazemos a corte!”, radicaliza a adolescente que frequenta uma comunidade evangélica no Bairro Parque das Palmeiras.

Atualmente, essa tecla da sexualidade tem sido muito debatida dentro das igrejas. Movimentos como ‘Eu escolhi esperar’ e ‘No Sex até casar’ tem encontrado cada dia mais adeptos. (Você já deve ter visto uma camiseta com essas frases por aí).

Ambos são campanhas cristãs que atuam em duas áreas específicas: sexualidade e vida sentimental. Com o objetivo de encorajar, fortalecer e orientar adolescentes, jovens e pais sobre a necessidade de viver uma vida sexualmente pura e emocionalmente saudável, esses movimentos valorizam a importância de saber esperar o tempo certo, a pessoa certa e a forma certa de viverem as experiências nestas duas áreas da melhor maneira. As campanhas apostam na força de mobilização das redes sociais para chegar a jovens de várias religiões – e dos lugares mais distantes do país.

No site do projeto "Eu escolhi esperar", no Facebook e no Twitter, os jovem compartilham posts e trocam experiências. Há também a possibilidade de participar de seminários, realizados nos fins de semana em diversas cidades Brasil afora.



Atualizações de status de rede social de jovens evangélicos imperatrizenses
Na opinião da ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini, coordenadora do Ambulatório de Sexualidade Feminina da Unifesp, a restrição ao comportamento sexual pode ser problemática, pois leva os jovens a não terem intimidade com os seus  corpos. Ela afirma que as experiências sexuais, mesmo as que não são bem-sucedidas, trazem discernimento.

“Tenho pacientes que não aguentaram se guardar e  perderam a virgindade antes do casamento”, conta Carolina. “Mas eles acabam ficando com um sentimento de  culpa muito grande, como se tivessem cometido uma traição contra Deus.”


Já o também  sexólogo  Theo Lerner, do Hospital das Clínicas da USP, acredita que a questão vai  além – e não pode ser analisada apenas pelos ângulos negativo ou positivo. Segundo ele, valorizar ou não a castidade antes do casamento depende do contexto sociocultural em que o indivíduo está inserido. “Em uma sociedade democrática e pluralista, diversos conjuntos de valores podem coexistir simultaneamente, o que permite uma série de escolhas quanto ao modo de enxergar a vida.”

Dados confirmam que no Brasil, os jovens estão iniciando sua vida sexual cada vez mais cedo. Uma grande pesquisa, chamada "Comportamento Sexual da População Brasileira", realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Cebrap em 1998 e 1999, mostrou que o início da vida sexual do jovem brasileiro está mais precoce do que há duas décadas.

Em 1984, só 13,6% das meninas tinham tido uma relação sexual completa antes dos 15 anos. Esse número saltou para 32,3% em 98. Entre os garotos, o número de jovens com a primeira relação sexual antes dos 15 pulou de 35,2% em 1984 para 46,7% em 98. Moral da história: um terço das meninas e metade dos meninos já transaram antes dos 15 anos no Brasil. 

Será que movimentos como estes tendem a mudar essas estatísticas ou eles estão fadados ao fracasso? Enquanto a resposta não vem, os jovens que escolheram esperar repetem como mantra 'Não nos deixes cair em tentação, mas livrai-nos do mal, amém'. 


Fonte: O Estadão




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